segunda-feira, 23 de maio de 2011

Jardim Gramacho (Duque de Caxias-RJ): a origem do nome

1. O capitão João Pereira Lima Gramacho

Quem dá o nome ao território onde hoje se situa o bairro do Jardim Gramacho é um personagem que viveu na região no século XVIII: o capitão João Pereira Lima Gramacho.

É provável que tenha nascido nos idos de 1720, mas sua origem (data e local de nascimento) ainda é desconhecida. Sabemos, entretanto, que morreu no dia oito de novembro de 1790, conforme consta no inventário que está conservado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Sobre esse inventário comentaremos em outro texto.

João Pereira Lima Gramacho foi lavrador de cana-de-açúcar, a principal atividade agrícola da região naqueles tempos. Mas quando morreu a cana já estava em decadência, motivo que levou seus filhos Francisco e Manuel a transferirem-se para as distantes terras de Campos dos Goitacases.

A fazenda de Gramacho possuía um pequeno porto por onde escoava a própria produção (e provavelmente dos vizinhos) para o Rio de Janeiro. Na época a navegação era o principal meio de transporte, por ser mais seguro e mais rápido. Levava cerca de um a dois dias para fazer o trajeto, dependendo dos ventos.

Esse porto aparece registrado em vários mapas antigos, da segunda metade do século XVIII, como no “Plano da Bahia do Rio de Janeiro”, de 1775, que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa[1] . Nesse mapa, o nome do capitão aparece erroneamente grafado como "Garamaxo".


trecho de mapa de 1775



A presença de João Pereira Lima Gramacho nesse local parece ser bastante anterior a essa data. Ele já estava na região em 1750 quando recebeu a patente de capitão de uma companhia de ordenanças do distrito de Irajá e Campo Grande. Foi empossado a 23 de setembro daquele ano por ato do então governador geral da capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade [2].

Essa é, segundo os registros que conseguimos pesquisar, a origem do nome.

2. Alterações na geografia da região

É preciso fazer uma importante ressalva sobre a localização desse porto que nos mapas da época aparecem à margem direita do rio Sarapuí. É que as obras de drenagem executadas pelo governo federal em 1915, na região, desviaram o curso do Sarapuí para o Iguaçu, através de um canal para isso construído [3]. Antes desse desvio, a foz do rio Sarapuí ficava localizada a pouco mais de um quilômetro ao sul da foz do rio Iguaçu [4].

No início do século XIX a região entrou em processo de decadência econômica, que se agravou com a chegada das estradas de ferro. Quando a Estrada de Ferro do Norte (depois incorporada à Leopoldina fixou seus trilhos na Baixada Fluminense, deu-se o nome de Sarapuí à estação construída a poucos metros do rio desse mesmo nome. A estação, que foi inaugurada em março de 1887, só teve seu nome alterado para Gramacho, como é até hoje, em 1944 [5].

3. A origem do Jardim Gramacho

Quando a Leopoldina mudou o nome da estação Sarapuí para Gramacho alegou-se como motivo a existência de outra estação com o mesmo nome (Sarapuí) no estado de São Paulo. O que parece mais provável, contudo, é que os interesses comerciais na região, então representados pela Companhia Imobiliária Gramacho S.A. Seus estatutos, de 1941, diziam ter como finalidade principal a “industrialização urbanística da antiga Fazenda Gramacho, de propriedade de dona Maria José Leivas Otero e situada em Caxias, oitavo distrito do município de Nova Iguaçu, (...)” [6].

Em 1945 a companhia transformou-se no Banco Hipotecário Gramacho. No seu relatório de janeiro do ano seguinte informava aos acionistas estarem em “franco progresso os serviços de urbanização dos diversos loteamentos, notadamente dos Jardins Gramacho, Olavo Bilac, Manuel Lucas, Icaraí e Paulista.” [7]


Notas:

[1] Este mapa pode ser consultado pela internet através do link: HTTP://purl.pt/890.

[2] Arquivo Histórico Ultramarino: Conselho Ultramarino, Brasil, RJ, Caixa 81, doc. 18810 e 18811.

[3] Ver o Relatório do Ministério da Viação e Obras Públicas, de 1915, pp. 139-140.

[4] Grosso modo, essa é a área atualmente ocupada pelo “lixão”.

[5] Estrada de Ferro Leopoldina., cf. circular da CGT nº 57/44.

[6] DOU, 04/09/1941, pp. 17335 e segs. Fazia parte da sociedade um dos filhos da proprietária, Augusto Leivas de Otero, personagem muito ligado a Getúlio Vargas. Anos mais tarde a companhia transformou-se no Banco Hipotecário Gramacho.

[7] DOU, 11/04/1946, pg. 3528.