terça-feira, 19 de junho de 2012

O Capitão João Pereira Lima Gramacho



 Em seus relatos das "Visitas Pastorais na Baixada Fluminense" no ano de 1749, Monsenhor Pizarro faz referência à capela de Nossa Senhora da Conceição de Sarapuí, que seria distante 1.1/2 légua rumo ao Noroeste a partir do local da antiga igreja de São João Batista de Trairaponga. Diz ainda que essa capela havia sido fundada por Frei Bartolomeu dos Serafins, no ano de 1682 ou 1683, então proprietário da fazenda onde se situava a capela. Após seu falecimento a propriedade teria passado à sobrinha de Frei Bartolomeu, Dona Joana de Moura, que casou com João Pereira Lima Gramacho.  

A 23 de setembro de 1750 Gramacho foi nomeado "capitão da companhia de ordenanças do distrito de Irajá e Campo Grande" , na vaga de Agostinho Martins Coelho que dera baixa desse posto. A nomeação foi feita pelo então governador Gomes Freire de Andrade, "por ser de conhecida nobreza e proposto pelo senado da camara desta cidade"  conforme documento a seguir reproduzido:



Além do mapa que localiza as atividades do capitão Gramacho sua presença ainda aparece mencionada num documento de 1779, onde consta ser proprietário de um dos 14 portos então existentes entre os rio S.João de Meriti e o rio Sarapuí. O documento é um texto bastante conhecido dos pesquisadores da história colonial brasileira: o “Relatório” do segundo Marquês de Lavradio, D. Luiz de Almeida Portugal Soares de Alarcam Eça e Melo Silva e Mascarenhas, que foi Vice-Rei do Brasil no período 1769-1779. Ao transferir o governo para o seu sucessor, Luis de Vasconcelos e Sousa, o Marquês preparou um detalhado relato sobre a situação da região, do qual faziam parte relatórios das principais regiões da província. Os anexos a esse relatório, preparados pelos mestres-de-campo, foram publicados pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no vol 76, 1ª parte, de 1913.

A referência ao capitão Gramacho aparece na “Relação das averiguações que se fizeram nas freguesias pertencentes ao Distrito do 3º de Irajá, de que é mestre-de-campo Fernando Dias Paes Leme, como abaixo são declaradas e circunstanciadas”. No detalhamento correspondente à freguesia de S.João de Meriti, constava a identificação dos portos ali existentes, nos termos a seguir transcritos:

 “Tem quatorze portos que começam do Rio de S. João de Meriti pela Costa do Mar, finda no Rio de Sarapuí, e neles só podem entrar barcos e canoas, e lanchas com marés grandes.
O porto geral, que é do R.º tem três barcos, dois do Tenente Manoel Mis e outro do Cap. Marcelino da Costa.
O porto do Engenho Velho, do Sgt. Mor José Dias de Oliveira, tem 1 canoa.
O porto da Pedra, do Reverendo Padre José Roiz, tem 1 canoa.
O porto de Pedro Alvarez Roiz, tem duas canoas de pescaria.
O porto do Pau Ferro de Francisco Pupo Correa tem 1 barco e 2 canoas.
O porto de D. Catharina Maria de Mendonça, que é de Valla, tem 1 barco
O porto do Cap. José Antonio Barbosa, tem 1 barco e 1 canoa.
O porto de Anna Ferreira, tem 1 barco.
O porto da Chácara (Xacra), tem 2 canoas Ignácio Roiz e de Antonio Martins.
O porto de João da Silva, tem 3 canoas.
O porto do Cap. João Pereira Lima Gramacho, tem 1 barco e 1 canoa de fazenda.
O porto do Mestre-de-campo Bartholomeu José Vahia, tem um barco de fazenda.
O porto do Cap. Pedro Alvarez Frique, não há embarcação”.

Gramacho manteve-se no posto de capitão de ordenanças até o ano de 1783, ou pouco antes. É desse ano um requerimento de Manoel Martins dos Santos Viana à Rainha D. Maria I solicitando a confirmação de carta-patente. Informava que esse posto que havia vagado por baixa de João Pereira de Lima Gramacho face à sua idade avançada.

De acordo com o inventátio que se encontra no acervo do Arquivo Nacional, o capitão João Pereira Lima Gramacho teria falecido no dia 8 de novembro de 1790.

Desse documento constam ainda as seguintes informações sobre esse personagem.

1. Gramacho era viúvo de Clara Maria dos Anjos, que teria falecido por volta de 1783;  (o que permite supor, que havia ficado viúvo anteriormente da citada Joana Moura, );
2. Gramacho e Clara tiveram pelo menos quatro filhos, citados no instrumento de partilhas:
- Francisco Pereira Lima Gramacho, nascido por volta de 1761;
- Anna Angélica do Espírito Santo, nascida por volta de 1763, casada com o alferes José Joaquim da Gama, que foi nomeado inventariante;
- Manoel Pereira Gramacho, nascido por volta de 1770;
- Maria Rosa, falecida entre 1783 e 1790.

É também do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino um requerimento datado de 7 de abril de 1807, em que um de seus filhos, Francisco Pereira Lima Gramacho, solicita ao principe regente, D. João (depois D. João VI) a confirmação de uma carta de sesmaria no sertão do rio Paraíba, que havia sido concedida ao seu falecido pai.