sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Espinho, anos 1940, nas fotografias de Amilcar Simões Gramacho (1888-1948)


O fotógrafo Amilcar Simões Gramacho nasceu em 1888, na cidade do Porto, filho de Augusto Anacleto Gramacho e de Casimira Simões. Ainda muito pequeno foi levado pelos pais para Lisboa onde passou boa parte de sua infância e juventude. 

Ainda era um jovem despreocupado quando ganhou de um tio, como presente de aniversário, sua primeira máquina fotográfica. Isso há muito tempo atrás, apenas se iniciava o século XX. Não ficou registo de que aparelho se tratava. Por certo haveria de ser algum equipamento barato e de fácil manipulação: focar e apertar o obturador. Para os padrões tecnológicas da época a parte complicada consistia em comprar o filme e depois pagar pelos serviços de revelação. Era preciso ter uma boa mesada para isso, o que não era o caso do pequeno fotógrafo. 

Como as necessidades abrem sempre novas oportunidades, tratou de aprender a lidar ele mesmo com as químicas e com as artes de fixar os negativos e de fazer brotar os positivos. Foi assim que, longe de desistir do brinquedo, dele se afeiçoou com paixão. Adulto e já com responsabilidades fez da fotografia seu meio de vida. Primeiro em Vizeu, depois na Figueira da Foz, mais tarde em Lisboa e finalmente em Espinho. 

Em Lisboa foi repórter fotográfico do jornal O Século. Mas foi em Figueira da Foz que descobriu ser possível associar o trabalho fotográfico, que lhe exigia longas e solitárias horas no laboratório, com o buliçoso trabalho em volta das mesas de roleta nos casinos. O jogo havia sido regulamentada no final dos anos 20 e tirava proveito do grande afluxo de turistas na temporada de verão. 

Na Figueira da Foz, anos 20

Foi por esse motivo que ao decidir deixar Lisboa, no início dos anos 40, Amilcar escolheu fixar-se em Espinho, cidade pequena à beira-mar, próximo à cidade do Porto, e que gozava de boa fama entre os turistas, principalmente espanhóis, pela qualidade das suas praias e pela animação do seu casino.

É dessa fase que ficou o pequeno acervo que agora, 70 anos após a morte de meu pai, achei que deveria publicar, na expectativa que possam interessar à curiosidade dos espinhenses de hoje. Essas fotos foram selecionadas por minha mãe dentre uma enormidade de provas e cópias de seus trabalhos, a maior parte do qual ela tinha que descartar. Não estão datadas. Algumas poucas não foram feitas em Espinho, mas sim de Lisboa, quando ainda lá vivia nos anos 30 e início dos 40. Várias contém no verso o carimbo “A. Gramacho – Repórter Fotográfico – Espinho”

Brasília, 25 de novembro de 2016

Amilcar J. A. Gramacho



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ÁLBUM
 “ESPINHO ANOS 1940”
      

Espinho, 1948
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
A.   GRAMACHO


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A foto de abertura (nº 1) é um de seus últimos trabalhos feitos ainda na capital. Reproduz a nau “Portugal” construída para a Exposição do Mundo Português, de 1940. É a única que está assinada pelo autor.

01
A nº 2 contém a anotação indicando referir-se ao “Parque Eduardo VII - Lisboa”. Pelo que se encontra nas fotos antigas desse lugar, efetivamente havia ali um lago, mas em nenhuma se encontra a construção revestida com hera que aparece na imagem. 

02
A de nº 3, provavelmente também feita em Lisboa, retrata o famoso aviador Humberto da Cruz e seu companheiro, o sargento mecânico Antonio Lobato. Ambos se notabilizaram em 1934 pelo histórico “raid” aéreo Lisboa-Timor-Macau-India-Lisboa.
03
A de nº 4 abre efetivamente a série sobre Espinho, com uma imagem da mais tradicional das atividades do lugar: um barco de pesca de sardinha em permanente desafio ao mar.

04

As fotos seguintes, de nºs 5 a 8 registram os principais espaços do litoral espinhense: a praia, o hotel (fachada e hall) e o casino (sala de jogo).

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As fotos de nº 9 e 10 assinalam a presença de alguns dos grupos musicais que atuaram no casino para alegrar suas agitadas noites de verão.

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As de nºs 11 e 14 retratam pessoas ligadas à administração do Casino daquela época em diferentes eventos.

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A de nº 15 destaca a presença do Bispo de Angola em visita a Espinho. (D. Moisés Alves de Pinho (nascido em Fiães, Santa Maria da Feira em 1884. Ver http://caldas-sao-jorge.blogspot.com.br/2009/10/vem-di-o-dia-mundial-das-missoes-17-e.html).

15

As fotografias de nºs 16 a 24 registram uma data festiva da cidade, com um desfile de carros alegóricos. A maioria das imagens foi feita no momento em que passavam pela rua 7 (onde vivíamos no ano de 1948), perto de cruzar a rua 66 em direção à linha do comboio. A casa cujo número se identifica (nº 281) na foto a seguir ainda permanece praticamente como era naquela época). Os carros que se identificam no desfile representavam: Socorros a Náufragos (e Pastelaria ?, no carro que lhe segue), Escoteiros, Peixaria Central, Misericórdia,União Comercial de Espinho, Moinho, Branca de Neve e os Sete Anões, Piscina Solário Atlântico e Fosforeira Portuguesa, sendo que estas três últimas tomadas de outra localização.


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As fotos nºs 25 e 26 reproduzem a procissão do Corpo de Deus que se realizou no dia 6 de junho de 1947, no momento em que percorria a rua 62 em direção à Esplanada, quase a chegar à rua 19. Nessa ocasião era comum realizar-se a primeira comunhão, motivo pelo qual muitas crianças aparecem com roupas especiais para essa cerimônia.


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A seguinte, de nº 27 é uma imagem rara da Piscina Solário Atlântico em construção. A de nº 28 apresenta o mesmo local já em pleno funcionamento.

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A série final, composta de 14 imagens, de nºs 29 a 42 , registram uma tarde festiva na antiga Praça de Touros de Espinho.

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