sábado, 10 de abril de 2010

Antonio de Brito Gramacho: engenheiro militar na Bahia



Antonio de Brito Gramacho, nascido por volta de 1690, era militar de carreira. Em 1711 foi destacado para sentar praça na Bahia, onde ficou pelo menos até 1741.

O Arquivo Histórico Ultramarino (Portugal) conserva vários documentos que registram sua presença e atividades em terras brasileiras.

Em 1725 dirigiu ao rei de Portugal, D. João V, um requerimento solicitando o pagamento de seu soldo por serviços prestados como ajudante de engenheiro. Foi atendido.

Em 1733 recebe do mesmo rei a patente que o nomeia para o posto de Capitão Engenheiro. Foi preciso que o rei insistisse na indicação pois o Conde de Sabugosa, que era seu preposto na Bahia como “Vice-Rei e Governador Geral do Estado do Brasil” teria enviado carta a Lisboa argumentando contrariamente à nomeação. Não se sabe o por quê, talvez tivesse outro nome de sua predileção. O fato é que as arengas do conde não alteraram a escolha do rei, que mandou confirmar a patente.

No ano seguinte, 1734, o já agora Capitão-Engenheiro, garboso do posto e disposto a dele extrair tudo o que tinha direito, enviou novo requerimento a Sua Majestade, reclamando cavalos e as pertenças a que fazia jus, “da mesma forma como foi dado ao Capitão-Engenheiro da cidade da Bahia, Nicolau de Abreu Carvalho”, argumentava. Novamente foi atendido.

Em 1739 participou da fortificação da Ilha de Fernando de Noronha, que havia sido recuperada aos franceses dois anos antes. Foi designado pelo Governador da Capitania de Pernambuco e lá supervisionou a construção de duas pequenas fortalezas: o Forte de São João Batista dos Dois Irmãos, na Ponta dos Dois Irmãos, e o Forte de São Joaquim do Sudeste, na baía do sudeste .

O último registro que dele se encontrou data de 1741, em documento no qual se enumeram seus feitos ao longo da carreira militar. Uma espécie de “curriculum vitae”, elaborado provavelmente para acompanhar um pedido de aposentadoria ou mesmo para requerer o retorno à pátria-mãe num posto melhor remunerado. Seu teor é a seguir transcrito.

Antonio de Brito Gramacho consta haver servido S. Majestade na cidade da Bahia por espaço de vinte e oito anos, 11 meses e 1 dia continuados com interpolação desde 7 de dezembro de 1711 até 28 de Junho de 1741 em praça de Soldado, Cabo de Esquadra, Condestável mor da Artilharia, Gentil Homem dela, Ajudante Engenheiro e Capitão de Infantaria com o exercício de Engenheiro por Patente de S.Majestade de 3 de agosto de 1731 e no [ilegível] do referido tempo no ano de 1737 na ocasião em que se fizeram faxinas[1] pelo infantaria paga para reparos nas trincheiras e fortinho do Rio vermelho distante daquela cidade uma légua assistiu o suplicante nelas com grande atividade e zelo do Real serviço, visitando-as freqüentemente, indo também por ordem do Conde de Sabugosa assistir ao trabalho da fortificação do Morro de São Paulo fazendo que os empreiteiros daquela obra executassem as instruções que lho deixou o Capitão Engenheiro João Teixeira Araújo. Em 738 [sic] representando o Governador de Pernambuco ao Conde de Galveas, Vice Rei do Brasil que para desenhar as fortificações daquela Capitania necessitava de um Engenheiro ser [ilegível] nomeado para esta diligencia e passando com efeito a dita Capitania o mandar o Governador dela à Ilha de Fernando de Noronha para haver de acabar a fortificação, medir a dita ilha, examinar os seus portos, tirar plantas, o que fez com a exação possível, e com tanto acerto que conferiam os seus projetos já executados com o que apontou o Engenheiro-mor do Reino, experimentando em quase três anos, que esteve fora de sua casa, muitos descômodos.”

Dos fortes que construiu em Fernando de Noronha não restam sequer vestígios. O de Rio Vermelho, em Salvador, que existiu na praia onde por volta do ano 1510 o lendário Caramuru teria sido resgatado pelos índios, foi posto abaixo no século XX pela prefeitura local que ali erigiu uma nova Igreja dedicada a Santana. Restam apenas, em Morro de São Paulo, as ruínas de um forte, a Fortaleza de Tapirandu, cuja construção consta ter durado 100 anos, só concluída em 1730. Também teria se envolvido com obras em Morro de São Paulo e Rio Vermelho.

De acordo com o que se lê nos Anais da Biblioteca Nacional, v. 24, 1903, p.34 [versão online no site da BN] Antonio de Brito Gramacho era irmão do poeta Feliciano Dourado de Brito com quem estudou no colégio dos jesuítas, de Olinda, Pernambuco. Ambos filhos de Manoel de Brito Gramacho e de D. Isabel Dourada, sendo esta irmã de Salvador Quaresma Dourado, que foi provedor da fazenda real na Paraíba.

É provável que Antonio, assim como Feliciano, tenha nascido na Paraíba.

Antonio foi pai de Roberto de Brito Gramacho, personagem da próxima postagem.




Nota:
[1] Cf. o Dicionário Aurélio o termo “faxina” significa “feixe de ramos, ou de paus curtos, com que se entopem fossos ou se cobrem parapeitos de bateria, e usado para outros fins nas campanhas militares”


BIBLIOGRAFIA:
A.H.U. Conselho Ultramarino AULER, Guilherme “Os Fortes de Fernando de Noronha” Imp.Oficial, Recife, 1947, pp. 38-39.
COUTO, Domingos do Loreto. "Desagravos do Brasil e glórias de Pernambuco". Rio de Janeiro. Oficina Tipográfica da Biblioteca Nacional. 1904
OLIVEIRA, Mario Mendonça de. "As fortificações portuguesas de Salvador quando cabeça do Brasil". Salvador. 2004.

Um comentário:

  1. Ele foi o primeiro Gramacho a viver na Bahia? Então, certamente, sou descendente dele!

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