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domingo, 30 de junho de 2013

JOAQUIM GRAMACHO REBELO (ou JOAQUIM GRAMAXO REBELLO)


Joaquim Gramacho Rebelo, nascido em Portugal, (c.1860), era filho de Rodrigo Gramaxo Rebelo (19/07/1826 - 25/07/1889) e de Ana Joaquina Fogaça (06/12/1840 – 26/06/1927). Veio para o Brasil nos idos de 1870 onde atuou no comércio e na profissão de guarda-livros; casou-se em 1885, no Rio de Janeiro, com a francesa Henriette Carlota [Charlotte] Paquet  (? – 12/07/1916), com quem teve: Marcos Paquet Gramacho (? – ?) e Anna Paquet Gramacho (25/04/1887 – ?)
A partir de 1881 encontram-se alguns registros de sua vida no Brasil, a saber.
-Em 1881  é sócio de Cardice, Gramacho  Cia, sita a rua do Conselheiro Saraiva, 21, atuando no ramo de Tanoaria [cf. “Almanak do Rio de Janeiro”. Ano 1881, p.1066]
-Em 1882 integra, como Tesoureiro, a chapa eleita para comandar a Associação dos Guarda-Livros , sita à rua do Hospício, 93, sobrado. [“Gazeta de Notícias” (RJ) de 30/07/1882, p.3]
-Nesse mesmo ano, em setembro, constitui a firma Braga & Gramacho, estabelecida à rua  Theofilo Ottoni, 132, no Rio de Janeiro, para explorar o ramo de comércio de mantimentos em sociedade com Antonio Gonçalves Braga. A sociedade seria desfeita no ano seguinte. [cf. Arquivo Nacional – Fundo Junta Comercial,1882/1883].
-Casa-se em 1885 com Henriette Charlotte Paquet. [cf. “O Apostolo” de 22/07/1885, p3]
-A 25 de abril de 1887 nasce a filha Anna Paquet Gramacho, no Rio de Janeiro. [cf. Arquivo Nacional].
-Em 1897 está em São Sebastião da Estrela, distrito de São José de Além Paraíba, Minas Gerais, onde integra comissão para saudar a eleição do barão de S. Geraldo. [cf.“O Paiz” (RJ), de 06/11/1897, p1]
-No final de 1898 é nomeado subdelegado do  distrito de São Sebastião da Estrela. [“Diário Oficial de Minas Gerais” de 31/12/1898, p2].
-No dia 12 de julho de 1916 dá-se o falecimento de sua esposa [cf. “Gazeta de Notícias” (RJ), de 17/07/1916, p4.
-Em maio de 1920, verifica-se o casamento de seu filho, Marcos Paquet Gramacho, cirurgião dentista, com Conceição Salvarani , em S. Sebastião da Estrela, MG. [cf.  “Gazeta de Notícias” de 22/05/1920, p4].
-Em junho de 1924 Anna Paquet Gramacho e Antonio Moreira da Cruz , dão entrada na 2ª Pretoria Cível do RJ da petição para casamento.  [cf. Arquivo Nacional do RJ].

Resumo:
Joaquim Gramacho Rebelo parece ter deixado descendência no Brasil; há referências na internet de pessoas com os sobrenomes “Paquet Gramacho” e “Salvarani Gramacho”.
É provável que tenham sido parentes próximos de Joaquim Gramacho Rebelo as seguintes pessoas sobre os quais se encontrou notícia de seus falecimentos:
- Quintino Gramacho Rebelo, natural de Portugal, solteiro, morador à rua da Alfandega, nº 2, sobrado, no Rio de Janeiro falecido a 05/12/1875, aos 16 anos de idade, de febre tifóide. [cf. “Diário do Rio de Janeiro” de 07/12/1875, p1, e registro de óbito da 1ª Circ.Reg.Civil]
- João Américo Gramacho Rebelo, natural de Portugal, solteiro, oficial de farmácia, , falecido a 30/01/1894 na rua Senhor dos Passos, 165, no Rio de Janeiro, aos 19 anos de idade, de febre amarela. [cf. Diário Oficial da União, de 02/02/1894, p.364 e registro de óbito da 2ª Circ. Reg. Civil]
-Candida Rosa Gramacho de Magalhães, natural de Portugal, de 43 anos, casada com José de Sampaio Magalhães, mãe de Julia e Maria, residente à rua Machado Coelho, nº 2,  no Rio de Janeiro, falecida a 22/03/1899 de febre renitente. [cf.”Gazeta de Notícias” de 27/03/1899, p.4  e registro de óbito da 7ª Circ.Reg.Civil]. [José de Sampaio Magalhães havia sido o declarante do óbito de João Américo].
Fontes:
Os jornais e publicações citadas estão disponíveis no site www.memoria.bn.br
As informações do Registro Civil estão disponíveis no site www.familysearch.org


terça-feira, 19 de junho de 2012

O Capitão João Pereira Lima Gramacho



 Em seus relatos das "Visitas Pastorais na Baixada Fluminense" no ano de 1749, Monsenhor Pizarro faz referência à capela de Nossa Senhora da Conceição de Sarapuí, que seria distante 1.1/2 légua rumo ao Noroeste a partir do local da antiga igreja de São João Batista de Trairaponga. Diz ainda que essa capela havia sido fundada por Frei Bartolomeu dos Serafins, no ano de 1682 ou 1683, então proprietário da fazenda onde se situava a capela. Após seu falecimento a propriedade teria passado à sobrinha de Frei Bartolomeu, Dona Joana de Moura, que casou com João Pereira Lima Gramacho.  

A 23 de setembro de 1750 Gramacho foi nomeado "capitão da companhia de ordenanças do distrito de Irajá e Campo Grande" , na vaga de Agostinho Martins Coelho que dera baixa desse posto. A nomeação foi feita pelo então governador Gomes Freire de Andrade, "por ser de conhecida nobreza e proposto pelo senado da camara desta cidade"  conforme documento a seguir reproduzido:



Além do mapa que localiza as atividades do capitão Gramacho sua presença ainda aparece mencionada num documento de 1779, onde consta ser proprietário de um dos 14 portos então existentes entre os rio S.João de Meriti e o rio Sarapuí. O documento é um texto bastante conhecido dos pesquisadores da história colonial brasileira: o “Relatório” do segundo Marquês de Lavradio, D. Luiz de Almeida Portugal Soares de Alarcam Eça e Melo Silva e Mascarenhas, que foi Vice-Rei do Brasil no período 1769-1779. Ao transferir o governo para o seu sucessor, Luis de Vasconcelos e Sousa, o Marquês preparou um detalhado relato sobre a situação da região, do qual faziam parte relatórios das principais regiões da província. Os anexos a esse relatório, preparados pelos mestres-de-campo, foram publicados pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no vol 76, 1ª parte, de 1913.

A referência ao capitão Gramacho aparece na “Relação das averiguações que se fizeram nas freguesias pertencentes ao Distrito do 3º de Irajá, de que é mestre-de-campo Fernando Dias Paes Leme, como abaixo são declaradas e circunstanciadas”. No detalhamento correspondente à freguesia de S.João de Meriti, constava a identificação dos portos ali existentes, nos termos a seguir transcritos:

 “Tem quatorze portos que começam do Rio de S. João de Meriti pela Costa do Mar, finda no Rio de Sarapuí, e neles só podem entrar barcos e canoas, e lanchas com marés grandes.
O porto geral, que é do R.º tem três barcos, dois do Tenente Manoel Mis e outro do Cap. Marcelino da Costa.
O porto do Engenho Velho, do Sgt. Mor José Dias de Oliveira, tem 1 canoa.
O porto da Pedra, do Reverendo Padre José Roiz, tem 1 canoa.
O porto de Pedro Alvarez Roiz, tem duas canoas de pescaria.
O porto do Pau Ferro de Francisco Pupo Correa tem 1 barco e 2 canoas.
O porto de D. Catharina Maria de Mendonça, que é de Valla, tem 1 barco
O porto do Cap. José Antonio Barbosa, tem 1 barco e 1 canoa.
O porto de Anna Ferreira, tem 1 barco.
O porto da Chácara (Xacra), tem 2 canoas Ignácio Roiz e de Antonio Martins.
O porto de João da Silva, tem 3 canoas.
O porto do Cap. João Pereira Lima Gramacho, tem 1 barco e 1 canoa de fazenda.
O porto do Mestre-de-campo Bartholomeu José Vahia, tem um barco de fazenda.
O porto do Cap. Pedro Alvarez Frique, não há embarcação”.

Gramacho manteve-se no posto de capitão de ordenanças até o ano de 1783, ou pouco antes. É desse ano um requerimento de Manoel Martins dos Santos Viana à Rainha D. Maria I solicitando a confirmação de carta-patente. Informava que esse posto que havia vagado por baixa de João Pereira de Lima Gramacho face à sua idade avançada.

De acordo com o inventátio que se encontra no acervo do Arquivo Nacional, o capitão João Pereira Lima Gramacho teria falecido no dia 8 de novembro de 1790.

Desse documento constam ainda as seguintes informações sobre esse personagem.

1. Gramacho era viúvo de Clara Maria dos Anjos, que teria falecido por volta de 1783;  (o que permite supor, que havia ficado viúvo anteriormente da citada Joana Moura, );
2. Gramacho e Clara tiveram pelo menos quatro filhos, citados no instrumento de partilhas:
- Francisco Pereira Lima Gramacho, nascido por volta de 1761;
- Anna Angélica do Espírito Santo, nascida por volta de 1763, casada com o alferes José Joaquim da Gama, que foi nomeado inventariante;
- Manoel Pereira Gramacho, nascido por volta de 1770;
- Maria Rosa, falecida entre 1783 e 1790.

É também do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino um requerimento datado de 7 de abril de 1807, em que um de seus filhos, Francisco Pereira Lima Gramacho, solicita ao principe regente, D. João (depois D. João VI) a confirmação de uma carta de sesmaria no sertão do rio Paraíba, que havia sido concedida ao seu falecido pai.

sábado, 17 de abril de 2010

O padre Roberto de Brito Gramacho: pároco de Canavieiras (Poxim) e Paripe

Roberto de Brito Gramacho era filho do engenheiro militar Antonio de Brito Gramacho, personagem da postagem anterior. É o que se conclui do texto publicado nos Anais do Arquivo Público da Bahia (v.56-57) que faz referência a uma "carta do rei de Portugal ao governador e capitão-general da capitania da Bahia informando sobre a petição do padre Roberto de Brito Gramacho, vigário da matriz de N. Sra. do Ó de Paripe, do arcebispo [sic] da Bahia, pedindo mercê do soldo de seu pai Antonio de Brito Gramacho, capitão de infantaria engenheiro.”

Roberto nasceu, provavelmente, na cidade de Salvador, Bahia, por volta de 1715-1720. Em 1741 foi nomeado vigário da freguesia de N. Sra. da Boaventura de Poxim, no atual município de Canavieiras, litoral sul da Bahia. Em 1770 estava em Salvador, como pároco da Igreja de Nossa Senhora do Ó de Paripe.

O Padre Gramacho é o autor do que talvez seja a primeira descrição da região da atual Canavieiras onde já estava há quinze anos. Isso nos idos de 1756. 

Naquela época Portugal estava sob o governo do Marques de Pombal, sob o reinado de D. José I (1750-1777). Uma das muitas iniciativas desse governo foi o de procurar juntar todas as informações disponíveis sobre o Brasil. A igreja católica tinha então seus pastores em quase todas as povoações, para que as almas dos primeiros habitantes não se perdessem pelos ermos distantes do pais. Além disso os padres eram pessoas com boa educação formal. Portanto, nada mais natural do que  serem encarregados de colaborar naquele grande esforço de “mapeamento” do nosso território. Afinal, os padres tinham seus salários pagos pelo governo. O resultado é que grande parte das primeiras descrições e mapas existentes sobre as partes mais distantes do território brasileiro são daquela época e fruto dessa decisão. E foi assim que o Padre Gramacho, então vigário em Poxim (atual Canavieiras), tornou-se o primeiro historiador local. Foi o autor do primeiro "retrato" daquele que é hoje um dos mais aprazíveis recantos turísticos da Bahia.

A igrejinha de S. Boaventura, em Canavieiras (BA), construída em 1718
(em foto de 2005 obtida do Flickr de Felipe Corneau)

Gramacho não se fez de rogado e por logo mãos à obra. Afinal não era todo dia que lhe aparecia uma oportunidade de ser lido pelos que em Lisboa cuidavam dos interesses do Brasil. Assim, já no começo de 1756 fazia despachar para Salvador as suas descrições do lugar, registrando logo na introdução, os seus lamentos e pedidos de ajuda. Dizia ele em bela letra e inspirada prosa:

“Manda-me V.Exa. descrever as povoações desta Paróquia com a individuação, que expressa a ordem de S. Majestade, que proximamente recebi. Sem demora vai correndo a pena, que de assim em doze léguas de tanto despovoado, primeiro havia de cansar como a pomba da Arca [1], do que chegasse a descobrir povoação. Bem mostra ser esta Paróquia a extrema, e princípio do Arcebispado, pois de tal sorte tem em si unidos o fim com o principio, que sem jamais passar do seu princípio se vê quase reduzida ao fim. Todas as suas coetâneas que não são menos de 19 se vem aumentadas nas Igrejas edificadas à custa da Real Fazenda, no culto, e ofícios Divinos, e pelo conseguinte no povo, no comércio, e opulência; só ela em tudo é a mais tênue, e diminuta; e trazendo os mesmos requerimentos há mais de dez anos na Corte jamais chegaram ao despacho, e agora totalmente pereceram na ruína universal de Lisboa [2], e com eles as esperanças”.

A primeira folha do relato do padre Gramacho


Tendo descrito longamente os rios que permitem, além do mar, fazer contato com as Minas Gerias e as vizinhas freguesias, resume os principais espaços ocupados pelos habitantes da época”

“Ajuntando-se o Rio de Patipe com o mar por esta barreta faz uma ilha que se estende por espaço de quatro léguas até à barra geral do mesmo rio, e não tem mais largueza, que a de 200 ou 300 passos ou braças em parte conforme as enseadas. Na primeira légua imediata à dita barreta está situada a povoação dividida porém , ou distribuída em três lugarejos. O primeiro se chama Embucagrande, que vale o mesmo que enseada grande, e nele existem 62 pessoas de comunhão e tem Capela de invocação de S. João Baptista feita de adobe de barro, e rebocada de cal, sem mais paramentos que para haver de celebrar nela o pároco traz os ornamentos da Matriz. Segue-se dai a um quarto de légua a Embuquinha, que quer dizer enseada pequena, e aí se acham 43 pessoas de comunhão, e mais 35 no restante da légua até o último lugar chamado Patipe, que por todos fazem o número de 140 pessoas de comunhão”.

E depois de ter levado sua descrição até às margens do Una, limite norte da freguesia do Poxim, encerra mencionando o mapa que vai anexo “cujo impolido lhe não muda a natureza de ser o modo mais expressivo, e praticado para por diante dos olhos os lugares mais remotos.”

Canavieiras (Poxim) em 1756



A última folha do relato de 1756



Notas:

[1] Refere-se á passagem do Livro do Gênesis, capítulo VIII, 10 e 11 “Duas vezes saiu a pomba da arca de Noé: do primeiro vôo, não estava ainda bastantemente desafogada a terra, e não achando onde firmar os pés, voltou sem novas da paz. Do segundo vôo estava já sossegada a tormenta e desaguado o dilúvio: descobre a oliveira, toma o ramo no bico e alegrou com a vista dele as relíquias do passado mundo e os princípios do futuro.”

[2] Padre Gramacho se refere aqui ao terremoto que destruiu grande parte da cidade de Lisboa em 1º de novembro de 1755.

O documento original está no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal. Foi transcrito pelo historiador Inácio Accioli de Cerqueira Silva em “Memórias históricas e políticas da província da Bahia” [com notas de Braz do Amaral], publicado em Salvador, na gráfica do Correio Mercantil, em 1937 (a edição original é de 1835).















terça-feira, 6 de abril de 2010

Brites de Paredes Gramacha, uma mestiça em Meriti (III)

O processo de Brites está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal. São 48 folhas. Começou no dia 28 de outubro de 1715, quando foi presa, e foi encerrado no dia 20 de fevereiro de 1716, pelo auto-de-fé. Hoje se pode ter acesso ao inteiro teor desse processo através da internet. É so copiar e colar no seu browse o link abaixo:
 http://digitarq.dgarq.gov.pt/default.aspx?page=regShow&searchMode=bs&ID=2310867


Capa do processo nº 10.690

“Processo de Brites
de Paredes Gramacho,
um quarto de cristã nova,
casada com Agostinho Monteiro, alfaiate, na-
tural e moradora na cidade do Rio
de Janeiro.
Ano 60
Ano 1716
Nº 8º"


As folhas 5 a 10v contém a descrição das culpas de que era acusada;

As folhas 11 a 12v contém o inventário da ré, feito em e de novembro de 1715. Os valores apurados foram confiscados para cobrir as custas do processo e as penas financeiras que lhe foram impostas.
Entre os bens que disse possuir constou:
Um carpido de mandioca, junto da fazenda de Manuel de Paredes, no sítio de Sapopema [sic], que produzia 20$000 por ano;
Tinha 3 escravos: Antonio, 16 anos, 150$000; Catarina, 13 anos, 100$000; e João, 14 anos, 50$000 (valia menos por ser “quebrado”, ou aleijado);
Tinha uma arca grande que valia 6$000;
Tinha uma arca grande de gavetas, de pau jacarandá, valendo 4$000;
Tinha um leito de pau Brasil ... que valeria 6$000;
Tinha uma caixa de pau de louro, ou vinhático, que varia 3$000;
Não tinha nenhuma peça de ouro nem prata

A folha 13 contém o Termo de nomeação de um curador, para acompanhá-la nas sessões da inquisição, uma vez que era menor de 25 anos.

As folhas 14 a 20 contém sua confissão.

As folhas 21 a 24v contém as informações sobre sua genealogia, que evidenciavam a ascendência de cristãos novos por parte de sua mãe, Lourença Mendes.

Folha 21 - Genealogia

"Genealogia
Aos quinze dias do mes de
novembro de mil setecentos e
quinze anos, em Lisboa, nos
Estaus, casa de ... audi-
ências da Santa Inquisição ..."

Brites diz que seu pai se chamava João Mayo Gramacho, era cristão velho, caixeiro e trapicheiro;
diz que seus avós paternos, já defuntos, se chamavam, o avô, João Mayo Gramacho [como o pai], cristão velho, capitão de "navio de porto", e que não sabia o nome da avó. E lhe parecia que eram ambos naturais da cidade do Porto, em Portugal.
Diz, também, não saber da existência de tios paternos.
Diz que de seu casamento com Agostinho Monteiro, cristão velho, nascido e morador no Rio de Janeiro, não tinha filhos.
Diz que era cristã, fora batizada na paróquia de Irajá, Rio de Janeiro, tendo por padrinho Agostinho de Paredes.

As folhas 25 a 41v contém novas confissões.

As folhas 43 a 45 contém a sentença.

A folha 46 contém a "Abjuração em forma"

Folha 46: Têrmo de abjuração, assinado por Brites e pelo curador
que lhe foi designado.


A folha 47 contém o "Termo de segredo"



A folha 48 contém o Termo de Ida e Penitência, última peça do processo.

Fl. 48: Termo de Ida e Penitência, datado de 20/02/1716


O processo de sua mãe, Lourença Mendes, também pode ser visto pela internet através do link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/default.aspx?page=regShow&searchMode=bs&ID=2304963

Os historiadores não dão conta do que se passou com aqueles condenados do santo ofício. Se foram obrigados a cumprir suas penas em Portugual, se por lá ficaram, ou se conseguiram algum indulto para voltar ao Brasil, embora já espoliados da totalidade dos seus bens. Não é de todo improvável, contudo, que esses mesmos personagens se tornem a referência mais plausível para explicar o surgimento, algumas décadas mais tarde, de um outro Gramacho, um pouco mais ao norte daquela mesma região, nas margens do rio Sarapuí: o Capitão João Pereira Lima Gramacho. E que este capitão, afinal, de cujos feitos pouco se conhece, tenha sido o que deixou sua presença mais perene na região ao fazer com que seu nome fosse utilizado para batizar a estação da estrada de ferro que cortava a região e, muito mais tarde, ser aplicado ao atual bairro de “Jardim Gramacho” no município de Duque de Caxias.

Mas isto já é outra história.

domingo, 4 de abril de 2010

Brites de Paredes Gramacha, uma mestiça em Meriti (II)

(continuação)

Um auto-de-fé

Os velhos preconceitos continuavam presentes e fortes na vida da distante metrópole lusitana. São esses preconceitos que irão lançar uma nova onda inquisitória em Portugal e cujos tentáculos se estenderão além Atlântico. Já no ano de 1700 os inquisidores conseguiram por as mãos em alguns brasileiros desavisados que tinham ido para Lisboa[1] . E, usando de intimidação ou tortura, iam fazendo com que, pouco a pouco, os nomes dos parentes na colônia começassem a ser citados para os autos. Da citação viriam as ordens de prisão.

Alguns anos depois as famílias Paredes, Ximenes, Mendes, e quase todas as que lhes estavam associadas por laços de parentesco começaram a sofrer as perseguições. Todos estabelecidos na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Os navios traziam os mandatos de prisão. Começava o calvário dos condenados: primeiro, o cárcere no Brasil, depois a viagem de navio, novo cárcere na capital do reino, até o dia de realização do auto-da-fé, a espetaculosa procissão em praça pública onde assumiriam seus pecados, suas penitências, ou a morte no garrote ou fogueira.

Brites Gramacha e sua mãe Lourença foram sentenciados em 1716. Muitos dos que viviam à sua volta a antecederam na prisão e na viagem para o reino. Inclusive o rico João Correa Ximenes e sua mulher, por exemplo, que foram presos em 1709, no Rio de Janeiro, e julgados no auto-da-fé de 1713, em Lisboa, e ambos condenados. No mesmo auto outros 77 parentes foram julgados.

Brites e sua mãe, junto com outros 35 parentes, foram acusadas de professar a fé judaica. Foram presas em 28 de abril de 1715, envolvidas numa rede de acusações sob tortura que os inquisidores acumulavam desde 1713. Brites, foi denunciada por 24 testemunhas, a mãe por outras 33[2]. No auto-de-fé de 16/02/1716 realizado no Convento de São Domingos, em Lisboa, a jovem foi punida com cárcere e hábito por tempo a arbítrado pelos inquisidores, enquanto a mãe sofreu pena de cárcere e hábito perpétuo[3].

Agostinho Monteiro, marido de Brites, também havia sido acusado em 1713 de ser cristão-novo, mas seu processo não foi levado avante, reconhecendo-se sua origem como cristão-velho[4].

No total, de acordo com os registros disponíveis, entre os anos de 1700 e 1723 foram levados aos tribunais do santo ofício 305 pessoas oriundas do Brasil. Desses, nada menos do que 143 eram parentes de Antonio José da Silva, que ficou posteriormente conhecido pela alcunha de “o Judeu”.[5]

Mas há outros registros importantes daquela época para além dos autos do santo ofício. Fatos que estavam acontecendo naquele pedaço da colônia, que fizeram parte da vida daquela gente e que haviam de ficar gravados na história.

Brites Gramacha teria apenas um ano de vida em 1697, ano que é considerado como o da descoberta do ouro das "minas gerais". Ouro que dali por diante viria a passar a poucas léguas ao norte de Meriti, para alcançar os portos dos rios Iguaçu e Estrela e depois seguir, por mar, para o Rio de Janeiro. E o ouro era tanto e tantos os perigos que passava que o vice-rei mandou abrir um caminho mais curto e seguro para os tropeiros que vinham das minas[6]. Incumbiu para a missão ninguém menos que Garcia Rodrigues Pais, filho do famoso Fernão Dias Paes Leme, o “descobridor das esmeraldas”. Em 1699, Garcia concluiu o seu trabalho ao estabelecer o que ficou chamado como o “Caminho Novo do Pilar” que reduzia a viagem das Minas ao Rio, de três meses para apenas 15 dias.

Brites já estava casada e andaria preocupada com as notícias das prisões pelo santo ofício de gente que lhe era próxima, quando ouviu os relatos das duas invasões de piratas franceses à capital do reino, atraídos pelo ouro. O primeiro foi Jean François Duclerc, em 1710, cuja tropa foi derrotada e Duclerc aprisionado e, depois, assassinado. O segundo foi René Duguay-Trouin, que chegou no ano seguinte e fez com que o governador assustado com a rapidez do ataque e o tamanho da frota francesa fugisse com suas tropas para os campos de Meriti e Iguaçu. Foi acusado de covardia mas alegou em sua defesa que era ali que melhor poderia defender os caminhos que levavam ao ouro. A “estratégia” deixou a cidade completamente à mercê do francês. Trouin aproveitou para libertar os presos que encontrou num convento dos jesuítas, entre os quais estava o já mencionado João Correa Ximenes, tio-avô de Brites Gramacha, que aguardava o navio que o levaria para o julgamento em Portugal. Enquanto outros presos aproveitaram para fugir quando os navios de Trouin fizeram-se ao mar carregando o valioso resgate que arrancaram do governador fugido, Ximenes e a mulher deixaram-se ficar. Mas nem por isso ganharam o beneplácito do santo ofício. Suas propriedades como as de muitos outros, foram confiscadas pelo novo governador e depois utilizadas para ressarcir os gastos que a fazenda pública teve com o pagamento exigido pelo corsário francês. Muitas dessas fazendas e engenhos acabaram sendo arrendadas aos proprietários vizinhos e é muito provável que tenham sido, mais tarde, incorporadas aos seus patrimônios. O que não se sabe é se todos aqueles condenados, ao fim do cumprimento das penas que lhes foram impostas, voltaram ao Brasil para retomar suas atividades ou se ficaram em Portugal. Ou mesmo se buscaram outros destinos, à distância mais segura dos tentáculos dos inquisidores de Portugal e Espanha.

Levaria ainda cerca de meio século para que o Marques de Pombal acabasse com a ação inquisitória em Portugal e nas suas colônias.

Notas:

[1] Catarina Soares Brandoa é citada como a principal delatora do grupo, tendo como base os presentes a uma festa de casamento ocorrida anos antes, em 1694, “as bodas de Irajá”, onde eram nubentes Manuel Paredes da Silva e Catarin Marques Henriques. Cf. Dines, Alberto, op. cit. p 428.

[2] Cf. Novinsky, Anita. “Inquisição – Rol dos Culpados – Fontes para a História do Brasil (Séculos XVIII), Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1992, pp 126 e 167.

[3] Cárcere a arbítrio: prisão breve (podia ser domiciliar) a critério dos inquisidores, para que o réu fosse instruído nos mistérios da fé. Cárcere perpétuo: prisão de três a cinco anos, a domicílio ou no degredo. A pena do “hábito” refere-se ao uso do “sambenito”, hábito penitencial na forma de um saco vermelho com grandes cruzes, em amarelo, às costas e à frente.

[4] Cf. Novinsky, A. Op.cit;  pp 3.

[5] Cf. Dines, A. Op. cit.

[6] Consta que já em 1699 a Coroa de Portugal teria recebido 725 kg do precioso metal originário do Brasil.